miércoles, 15 de julio de 2009

Presidente Manuel Zelaya convoca hondurenhos à "insurreição" (en portugués)

Recebido na Guatemala com honras de chefe de Estado, a declaração, é um passo em direção ao confronto aberto com o governo golpista de Roberto Micheletti

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, pediu nesta terça-feira que o povo hondurenho se rebele e force a queda do governo golpista do país.

A declaração, feita durante uma visita à Guatemala, o­nde foi recebido com honras de chefe de Estado, é um passo em direção ao confronto aberto com o governo de Roberto Micheletti e lança uma sombra de incerteza sobre as negociações mediadas pelo presidente da Costa Rica, Oscar Árias, entre os golpistas e o governante legitimo de Honduras.

"A insurreição é um direito do povo que está consignado no artigo terceiro da Constituição de Honduras e os hondurenhos devem fazer valer seus direitos constitucionais", declarou Zelaya, que foi deposto no dia em que pretendia fazer uma consulta popular que, segundo a Justiça, violava a Constituição.

A votação, que acabou não acontecendo tinha como objetivo abrir o caminho para um referendo sobre mudanças constitucionais entre elas, segundo a oposição, a possibilidade de reeleição, o que é expressamente proibido pela atual lei hondurenha, que prevê o encerramento do mandato de quem tentar mudar essa cláusula constitucional. O presidente deposto, cujo mandato se encerra no início do próximo ano, nega que buscasse a reeleição.

Zelaya, que convocou o levante em uma entrevista coletiva na residência presidencial da Guatemala, também afirmou que, em breve, voltará à Presidência hondurenha.

"Eu não me rendi nem vou me render. Vou voltar ao país o quanto antes. Não quero avisar a hora nem o dia, para não deixar as forças opositoras em alerta, que sabemos que são criminosas. Vamos retornar ao país. Estamos planejando nosso retorno", afirmou.

Protagonista de um voo em direção a Honduras no dia 4, que anunciou como um retorno ao país, mas que seguiu para a Nicarágua porque a pista do aeroporto de Tegucigalpa foi bloqueada por carros militares, Zelaya pediu aos hondurenhos "que não deixem as ruas", que é o único espaço "ainda não tirado" da população, afirmou. Dois apoiadores de Zelaya morreram no protesto em frente ao aeroporto no dia da fracassada tentativa de retorno --governo e manifestantes responsabilizam-se mutuamente pelas mortes.

"O direito à insurreição é um direito constitucional. Ninguém comete um delito contra um governo de facto por protestar pacificamente em diferentes campos da sociedade", disse Zelaya, acrescentando que "a greve, as manifestações, as ocupações, a desobediência civil são um processo necessário quando a ordem democrática de um país é violentada".

"Ninguém deve deixar a luta. É preciso mantê-la até que os golpistas deixem o regime de facto que estabeleceram em nosso país", afirmou.

Nesta Segunda-feira, Zelaya tinha afirmado que recorreria a "outros meios" caso o governo interino não o reempossasse até a próxima reunião mediada pelo presidente da Costa Rica.

"Damos um ultimato ao regime golpista para que, o mais tardar, na próxima reunião a ser realizada esta semana em San José, Costa Rica, cumpra os mandados específicos de organizações internacionais e da Constituição hondurenha", afirmou Zelaya ao ler um comunicado na Embaixada de Honduras em Manágua.

Nesta terça-feira, Árias disse que as negociações serão retomadas no próximo sábado, depois que duas rodadas de negociações anteriores não conseguiram produzir um avanço.

Arias também apelou para que Zelaya "seja paciente".

"Compreendo o desejo do presidente Zelaya de voltar e restabelecer-se como presidente do povo de Honduras o mais rapidamente possível, mas a minha experiência me diz que temos de ser um pouco pacientes", disse Arias, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1987 por seus esforços no encerramento de guerras na América Central. "Não é fácil obter resultados em 24 horas."

Em uma resposta ao ultimato de Zelaya, o “Departamento de Estado americano também pediu nesta terça-feira que todas as partes envolvidas na crise política de Honduras tenham calma e deem uma chance ao diálogo sem pressão por datas e prazos.”

O governo golpista de Honduras, que não foi reconhecido por nenhum país, luta para conseguir algum tipo de legitimidade internacional por meio das negociações e aponta para a aparente coesão entre as classes governantes do país --incluindo o partido de Zelaya-- como um sinal de que não houve ruptura da ordem democrática. Mas Zelaya, que com a viagem desta terça-feira à Guatemala completou o ciclo de visitas a todos os países da América Central, apoia-se nos aliados estrangeiros para forçar a queda de Micheletti e garantir sua volta ao poder.

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